A História de São João da Barra
HISTÓRIA SIMPLIFICADA DE SÃO JOÃO DA BARRA
Foi a partir de 1630, com a chegada de um grupo de pescadores de Cabo Frio, que se iniciou efetivamente a povoação do Norte Fluminense. Com a morte da mulher do pescador Lourenço do Espírito Santo, este se retira do pontal da barra – onde hoje se localiza Atafona – indo fixar residência mais para o interior num pequeno elevado de areia junto ao rio Paraíba do Sul. Após construir sua pequena cabana de palha Lourenço logo foi seguido por outros pescadores, dando eles início a construção de uma pequena ermida em louvor a São João Batista.
Durante muitos anos o pequeno povoado pouco se modificou, sendo que já em 1644 era a capela de São João confirmada pelo prelado D. Antônio de Maris Loureiro, época em que se delineavam os contornos do pequeno arraial contando com algumas casas, todas de palha, situação que vai perdurar até a elevação do povoado a categoria de Vila em 1676. Segundo o historiador Fernando José Martins. Ainda segundo Martins, a população da recém criada Vila era de aproximadamente 30 pessoas que ele relaciona a sua obra.
Dedicando-se à pesca, a algum transporte de mercadorias, criação de gado vacum e cavalar e ao início da cultura de cana, foi que viveu durante o século XVII a gente dessa terra. Por essa época, foram abertas a Rua da Boa Vista, a única que existiu durante muitos anos e a Rua Direita, inicialmente chamada, de Rua do Caminho Grande e que servia para os moradores da barra para virem às missas e negócios na vila.
Como o alvorecer do século XVIII, tomou importância o transporte fluvial entre a vila de Campos e vizinhança com o porto da Bahia, para onde seguia toda a produção açucareira, via São João da Barra. Isto fez crescer a entrada e saída de embarcações em nosso porto, com isso iniciando um pequeno desenvolvimento urbanístico na vila, que passa a contar com um maior contingente populacional.
Neste período é intensa a vinda de portugueses para a vila, e consequentemente um maior número de casas. Neste século houve a abertura de novas ruas como a Rua do Rosário aberta em 1774, a do Passos em 1778, com o nome de Rua São Benedito, a do Sacramento em 1792 e a da Banca, que formava a parte de frete da vila em relação à barra. São dessa época as melhorias na Igreja Matriz e na Casa da Câmara e Cadeia Pública que foram reformadas sendo construídas de pedra e cal com suas respectivas cobertura de telhas confeccionadas na única olaria existente.
Com o crescimento da vila, surgem novas devoções religiosas e dessa forma o século XVIII vê nascerem às irmandades do Santíssimo Sacramento e Senhor dos Passos, anterior a 1730, época em que se inicia a construção de sua capela anexa à igreja matriz, e a de Nossa senhora do Rosário em 12 de outubro de 1727, também logo erguendo junto à matriz uma capela para a mãe de Deus. Data de século o início da devoção de São Benedito que teve sua irmandade criada e posteriormente em 1816 iniciadas as obras de sua igreja.
Era por essa época muito pobre a vila de São João Batista da Barra, fato que se pode verificar em documentos transcritos por Fernando J. Martins, e em 1750 o Senado da Câmara determina através de decreto, que sejam providenciadas alfaias decentes para a acomodação das autoridades que visitassem a vila por ocasião das correições. Também em 08/12/1751 outro decreto determina que não mais se construam no perímetro urbano casas cobertas de palha, o que denota um melhoramento urbanístico na vila.
Contudo era ainda a vila muito pobre, conclusão tirada pela descrição do Capitão Manoel Martins do Couto Reys que em 1785 assim descreve a vila: “He muito pobre e pouco populosa: está situada tão bem em huma planície sobre áreas na margem do Paraíba. Distante de sua barra, pouco mais de meya legoa. Contém dentro em si 111 fogos unicamentea tem dos que se manifestão nos seus lugares exteriores.” É ainda Couto Reys quem nos informa que neste mesmo período havia neste número de fogos 31 casa cobertas de palha e 80 de telha das quais cinco são ocupadas com pequenas lojas e dois com tabernas. Dessa forma vai andando a vila que conhecerá progresso e notoriedade com início do século XIX.
O alvorecer do século XIX trouxe para o Brasil a Família Real e com ela todo um entourage palaciano que acomodada no Rio de Janeiro necessitava de gêneros diversos. São João da Barra, que já vinha se dedicando ao comércio dessa região com aquela cidade passou a suprir as necessidades da recém instalada Corte.
Se o comércio se intensificou, melhoraram as condições financeiras dos habitantes que, por conseguinte também melhoraram seus costumes e hábitos.
Aos poucos a vila foi conquistando melhorias; novas irmandades formaram criadas, como a de São Benedito, São Miguel e Almas, e a Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte e São Pedro, além das devoções de Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora da Penha, na Barra , foram abertas escolas públicas e particulares, prédios vistosos e elegantes construídos, os Jovens das principais famílias mandados para Universidades, sociedades musicais e dramáticas inauguradas. De forma que visitando a Vila em 1847 o Imperador D. Pedro II não teve dúvidas que o progresso visto era sinal que a vila merecia ser elevada a cidade, o que fez através de decreto datado em 17 de Junho de 1850.
Econômica e socialmente, São João da Barra alcançou seu apogeu neste período o que atesta a descrição do Almanaque Laemmeth “... A cidade edificada à margem direita do Rio Paraíba (...) tem 804 casas entre as quais 46 sobrados de um ou dois andares; destas casas são habitadas 758, dividindo-se em 19 ruas, 39 becos e travessas e seis praças. Tem 4.790 habitantes, dos quais 2.623 do sexo masculino e 2.167 do sexo feminino. As ruas e praças são apenas calçadas nos passeios junto às casas, mas o terreno é todo arenoso e enxuto...”.
Foi neste século que inauguraram, com o auxilio do imperador, a Santa Casa de Misericórdia; a Usina Barcelos, propriedade do barão de mesmo nome; duas Companhias de Navegação; uma Companhia Agrícola; uma Companhia de Cabotagem; a Companhia da Valla Navegável do sertão de Cassimbas; a Sociedade Beneficente dos Artistas, que construiu em 1902 o Teatro São João; a Sociedade Marítima Beneficente; a Sociedade Musical e Carnavalesca Lira de Ouro e a Banda Musical União dos Operários, sucessora da extinta Lira de Ferro, fundada anteriormente e a loja Maçônica Capitular Fidelidade e Virtude, datada de 24 de março de 1839.
O progresso que alcançou a cidade por essa época fez instalarem-se os vice-consulados de Portugal, Espanha, Baviera e Paises Baixos, que cuidavam dos interesses desses países em seu comércio com São João da Barra.
As Escolas aumentaram em número e qualidade, hotéis foram abertos, bilhares, padarias, alfaiatarias, barbearias, ferrarias, funilarias, tornearias passaram a funcionar movimentando o comércio da cidade que chegou a contar com Tipografias, e Relojoeiros, Poleeeiros, Açougues; 60 Lojas de Tecidos, mais de 50 de Secos e Molhados, Seleiros, Agência de Aluguel de Carros, Agências de Serviços Fúnebres, Despachadores de Embarcações, Boticários, Sapatarias, Estaleiros de Construção Navais, Fogueterias, Marcenarias, Olarias, Fábricas de Charutos, Cigarros e Licores, Lojas de Maçames e Tintas, Fotógrafos e Retratistas, Bilhares, Oficinas de Calafates e Trapiches.
A navegação de cabotagem, os navios a velas e a vapor movimentavam o Porto Sanjoanense que se desenvolvia paralelamente ao crescimento da cidade que começou a receber Portugueses de diversos pontos da metrópole. É neste, que chegaram aqui os Nunes Teixeiras, os Ribeiros de Seixas, Os Lobato, Cintra, Melo, Lisboa, Pinto da Costa, os Moreira, os Carrazedo, Souza e Neves, Tinoco, Gomes Crespo, Souza Valle, Costa Araújo, Mattos Alecrim, Pavão, Maia da Penha, Motta Ferraz, Macedo, Ferreira de Azevedo, Costa Cobra, Rebola, Lopes, ou seja, os principais troncos das famílias que hoje povoam a cidade.
E foi dessa forma que o progresso se instalou durante o século XIX dando-lhe prestígio e notoriedade. Mas o iníciar do século XX, mais precisamente em 1918, após a venda da Companhia de Navegação, e com a abertura da navegação de cabotagem a navios estrangeiros, fez todo esse progresso desmantela-se qual Castelo de Areia. Do progresso, São João da Barra conheceu a ruína que só não foi total pelo surgimento da Indústria de Bebidas Joaquim Thomaz de Aquino Filho, sustentáculo da economia sanjoanense por todo este século que termina. E só agora com advento do Petróleo, o desenvolvimento retorna a Cidade de São João da Barra, 150 anos após a criação da Cidade.
Bens Históricos de São João da Barra
Antigo Grupo Escolar
Bela edificação tipo “chalet” ao gosto romântico, típico do último quartel do séc. XIX, com elementos decorativos que denotam apuro formal e construtivo. O prédio tem construção anterior à implantação do colégio, servindo inicialmente de residência da família do rico armador de navios Manoel José Nunes Teixeira, o Coronel Teixeira, e sua mulher D. Mariana Teixeira.
Em 12 de dezembro de 1922 é inaugurado o Grupo Escolar Alberto Torres pelo presidente do Estado, Raul de Moraes Veiga, funcionando com este uso por quase 50 anos. Desativado em 1970 devido à precariedade da conservação e incompatibilidade com as necessidades de espaço.
O edifício é construído de um único corpo de dois pavimentos com planta retangular. Uma escada lateral de cantaria e guarda corpo de serralheria, serve de acesso ao segundo andar.
Sua fachada principal é vazada por oito janelas de vergas retas, guarnecidas por esquadrias de vidro e veneziana. O pavimento superior possui quadro janelas rasgadas com sacada corrida em serralheria. No tímpano, um óculo central coroa a frontaria.
Igreja Matriz de São João Batista
A mais antiga igreja de São João da Barra, erigida em louvor do padroeiro São João batista em 1630. Era uma pequena capela de madeira e localizava-se no mesmo local onde hoje existe o belo templo da Matriz.
Sendo de construção precária, poucos anos após erigida, já esse pequeno santuário achava-se completamente inservível, o que levou à sua reconstrução em 1679 e à sua reforma em 1713.
Uma tragédia ocorreria na madrugada de 15 de julho de 1882, um pavoroso incêndio destruiu quase totalmente o magnífico templo. Sua reconstrução em alvenaria motivou as autoridades e a população. Neste incêndio só permaneceram de pé as duas capelas laterais. A torre sineira e de construção posterior ao resto de templo.
Antiga Casa da Câmara E Cadeia Pública
Construída em terreno adquirido de D. Cecília Andrade, a Casa da Câmara e Cadeia Pública foi edificada pelo construtor Antônio Fernandes da Silva em 1709, posteriormente reformada em 1736, sendo o presidente da Câmara nesta época o corregedor José Pinto Ribeiro.
A construção não se caracteriza pelo cuidado com a forma, mas apenas com a resistência sendo suas paredes de grossura invulgar e as janelas fechadas por grades tramadas em rede.
Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte
Em antiguidade é o segundo templo da cidade, construído para abrigar a Ordem Terceira de N. Senhora da Conceição e Boa Morte após a chegada nesta cidade da linda imagem de N.S. da Boa Morte trazida da Bahia pelo marinheiro Antônio Alberto de Vasconcelos em 1802.
Sua construção em pedra e cal deveu-se à benemerência do Comendador Joaquim Thomaz de Farias (traficante de escravos está enterrado na Igreja da Boa Morte. Assim como D. Francisco Bento de Jesus Faria), que com gastos pessoais de cerca de cinco contos de réis edificou-a com grossas paredes.
Fórum Municipal
O prédio que hoje abriga o fórum de S. J. da Barra foi mandado construir no século XIX para residência do rico traficante de escravos o comendador André Gonçalves da Graça e sua esposa D. Clarinda Dias de Jesus.
Por ser o prédio mais elegante e confortável da época, serviu para hospedar D. Pedro e sua comitiva quando da visita destes à nossa cidade em 1847.
Residência do Coronel Francisco Pinto
Elegante edifício em único corpo de dois andares com planta retangular, construído para residência do armador de navios o Coronel Francisco Pinto da Silva na década de 1860.
Em elegante estilo “chalet” o prédio tem no andar superior três janelas rasgadas guarnecidas por sacada de serralheria típicos do período. No andar térreo uma porta lateral dá acesso a um corredor com escada interna para o segundo piso. Também um portão duplo dá acesso a garagem.
Em frente não rio Paraíba este edifício faz frente a ruína do antigo trapiche, formando um interesse conjunto.
Fonte: www.sjb.rj.gov.br/cidade2.asp
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