José Rangel - 106 anos
Talvez uma página não seja suficiente para contar sua história. Com 106 anos, o Talento da Terra desta semana é o pescador profissional, José Rangel: o senhor que começou a trabalhar aos três anos de idade.
Chefe de família grande, pai de 10 filhos, 10 netos e 5 bisnetos, José Rangel tem história para contar.
Nasceu e morou na roça. Foi criado em uma fazenda próxima à lagoa de Grussaí. Nela tinha de tudo: caju, banana, aipim, batata e tomate. Além disso, tinha muita animação e festas. “Na minha casa sempre tiveram muitas festas. Meu pai fazia churrasco. Vinha gente do Rio de Janeiro, São Paulo. Todo mundo comia e bebia”, conta.
José Rangel perdeu seu pai com quatro anos e ele conta que seus irmãos não gostavam muito de trabalhar. Desta forma, ele começou a ajudar sua família. “Fiquei trabalhando de noite, pescando com lama no peito e com camisa de saco abotoada nas costas. Porque naquela época você podia até andar despido, não encontrava com ninguém, só tinha burro, égua, cavalo, jumento, cabrito e gado no meio do caminho”, lembra.
José Rangel tinha problemas na família. Mas, na maioria das vezes a união falava mais alto. Quando sua mãe morreu, ele deu a fazenda em troca do enterro dela, assim, ele e seus irmãos não herdaram nada. “A fazenda tinha900 hectares. Era terra que não acabava mais, e ninguém herdou nada”, lamenta José.
Homem de uma mulher só
José Rangel assume ter sido mulherengo, como todos os homens. Tinha várias namoradas: “uma aqui, uma lá”. Mas ele conheceu Tereza aos 14 anos, quando ainda não tinha físico de homem.
Como a mãe de Tereza era doente e tinha sete filhas para sustentar, ela pediu para morar com José Rangel. Ele aceitou o pedido e o 1º encontro foi embaixo de um pé de caju, em um dia chuvoso. A partir daí, ela sempre esteve com ele até o dia que ela faleceu, aos 76 anos.
O homem de 106 anos afirma ser vaidoso até hoje. “A vida é boa para quem sabe viver. As pessoas me perguntam como consegui chegar a essa idade, eu passo creme no meu corpo todo dia; faço caminhada há cinquenta e tantos anos, não sofro dor de barriga, nem de cabeça, tomo remédio só para o cérebro há uns 30 anos. Lavo roupa, limpo o quintal, tiro os capins. Trabalho o dia todo, não consigo ficar parado” explica José.
Como pescador...
José Rangel sempre teve o costume de pescar sozinho, mas acreditava estar na companhia de Deus. Sua vida era voltada ao trabalho: fazia palhão, pescava e vendia o peixe.
Ele conta que, certa vez, sua esposa ao limpar o peixe encontrou um sapo. “Pega a panela e joga fora, acabou peixe na minha vida”, disse o pescador a sua esposa.
Mesmo com o incidente, ele continuou pescando. Até mesmo depois de idoso. Sua maior tristeza é ter seu barco furado, andar e não encontrar mais peixe. “Eu estava andando e não achava mais peixe, então parei. Mas se tivesse peixe ainda estaria pescando”, lamenta.
Seu maior talento é viver muito. Viver bem. É ter vontade de dançar e estar nos bailes. É envelhecer na pele, mas não envelhecer de espírito. Não ter vergonha de estar feliz. “Comecei bem a vida e tenho fé em Deus que acabo bem”, conclui.