terça-feira, 28 de junho de 2011

 Historiador em tempo de Cultura




Historiador em tempo de Cultura
O crescimento da História Cultural nas últimas décadas colocou na pauta dos historiadores assuntos antes renegados pela historiografia, como a cultura pop, o samba ou ainda o estudo dos símbolos modernos. Saiba mais sobre esse universo de temas da nova historiografia


Os estudos históricos sobre cultura não são exatamente uma novidade para nós do século XXI. Ainda no século XIX, o historiador suíço Jacob Burckardt desenvolveu trabalhos brilhantes acerca do renascimento. No entanto, foi somente a partir da década de 1970, que os aspectos culturais do comportamento humano deixaram de ser secundários e começaram a se tornar o centro privilegiado do conhecimento histórico. Chamou-se essa mudança paradigmática de “virada cultural”. Desde então, a historiografia nunca mais foi o mesma.


A mudança, pode-se dizer, foi para melhor. Até aquele momento, a história era bastante dominada por esquemas teóricos generalizantes que valorizavam grupos particulares. Era vista como uma grande narrativa da qual pouco ou quase nada podia escapar. Era a história dos “grandes territórios”.
Nos últimos quarenta anos, a História Cultural cresceu, prosperou e hoje instiga historiadores de todo o mundo a produzirem trabalhos de excelência sobre gênero, formação de memórias, minorias étnicas e religiosas, hábitos, costumes, laços identitários e o que mais integrar o vasto universo do cultural nas sociedades humanas. Foi no bojo dessas transformações que a historiografia descobriu diversos temas até então renegados ao silenciamento ou condenados ao isolamento.


É o caso da cultura pop, da simbologia, assuntos estudados hoje não só por historiadores, mas também por pesquisadores da área da comunicação social; do desenvolvimento dos signos nas sociedades antigas, dos diversos elementos da cultura de massa ou da cultura “pop” no século XX. É o caso ainda de crendices pertencentes a cultura popular, do medo da morte ou ainda do medo do desconhecido, como é o caso da vida após a morte e de elementos que habitam o sempre polêmico conceito de “imaginário social”.


É claro que há problemas. Um deles, talvez um dos mais difíceis de lidar, seja o fato de que muitos desses temas ainda se encontrem no senso comum associados a ocultismo, numerologia, espiritualidade, teorias conspiratórias, enfim, estereótipos, arquétipos e simplificações que estão muito distantes do universo normativo dos historiadores. O crescimento da internet ajudou bastante na proliferação de todo tipo de discurso caricaturado de muitos desses temas. Nesse contexto, os símbolos são quase sempre vistos apenas como parte de um universo de ocultismo, de espiritualidade, associados a conspirações e mensagens subliminares e não como uma linguagem construída desde a antiguidade até o cotidiano contemporâneo, um processo de comunicação construído socialmente e que dá inteligibilidade ao mundo.


Mas, apesar destas dificuldades, a nova gama de questões inerentes à história cultural vem conseguindo romper com preconceitos e com os discursos sensacionalistas. Prova disso é a quantidade de boas obras do gênero que surgem nas universidades. Uma dessas obras é livro “Pedalando na Modernidade: a bicicleta e o ciclismo na transição do século XIX para o XX”, de André Maia Schetino. Nesta obra, lançada recentemente pela editora Apicuri, o autor explica como a bicicleta gerou uma prática ao seu redor, o ciclismo, no contexto de construção do ideário de modernidade. Na pesquisa, Schetino realizou uma vasta pesquisa, descobriu uma outra relação Brasil-França que até pouco tempo atrás não seria possível deduzir a partir de fontes tradicionais. Além disso, é preciso citar o original "Dicionário de Simbologia", escrito por Manfred Lurker, que se propõe a explorar temas vastíssimos como ressurreição, fertilidade, poder, vida, triunfo e outros tantos que compõem não só o terreno do historiador dos costumes contemporâneos quanto também do antropólogo.


Gostou do assunto? O Café História realizou uma pesquisa e indica alguns conteúdos que podem lhe ajudar a compreender um pouco mais dos novos ares trazidos pela História Cultural nas últimas décadas.


Primeiro o artigo de André Maia Schetino e Vcitor Andrade de Melo, “A bicicleta, o ciclismo e as mulheres na transição dos séculos XIX..., que deve agradar bastante àqueles que se interessara pelo livro há pouco citado. "Desde que o samba é samba: a questão das origens no debate histori..., de Marco Napolitano e Maria Clara Wasseman também é um artigo que vale a pena ser lido. Há ainda o Vídeo "História Cultural - Teoria e Historiografia", da Universidade Aberta do Brasil, que você confere clicando aqui. Por fim, é leitura obrigatória o livro “O que é História Cultural”, do historiador inglês Peter Burke, considerado hoje o maior expoente da História Cultural. Na página principal, você encontra esse livro a venda no site submarino.

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